quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Prezado Senhor

Resolvi escrever esta carta com o intuito de perguntar o que deseja de presente neste Natal. Tenho percebido ultimamente que quase todo mundo ganha presente, menos o Senhor e as pessoas humildes que trata com tanto amor e carinho. Também reparei que poucos lembram de convidá-lo para a Ceia, para a Festa. Na certa devem estar muito ocupados festejando. Confesso que eu gostaria de celebrar esta data de uma forma diferente, mas a maioria é quem decide, infelizmente. Fiquei dias pensando o que seria capaz de agradá-lo. Sei muito bem que o Senhor não deseja nada que o dinheiro pode comprar. Tomei então a liberdade de perguntar o que gostaria. Sabe, eu estou aqui presenciando virtualmente o pássaro azul transmitir uma guerra civil social em tempo real na minha cidade maravilhosa enquanto escrevo. Pensei em uma coisa vendo tudo isso, em um presente ideal, especial para celebrar o dia do seu Aniversário. Amar sempre, incondicionalmente, o meu semelhante como eu te amo. Só que eu preciso de ajuda para que esse presente chegue em suas mãos inteiro, completo, sincero, verdadeiro, de coração, em união. Quem pode ajudar? Feliz Natal.

Monica


Esta carta surgiu do pedido de uma menininha. Esta postagem é para ela. :])

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

De masculinos e femininos

Chico, com todo seu brilhantismo, se escreve descaradamente, sedutoramente e apaixonadamente no feminino. Ele, como muitos, possui o desejo, o fascínio, de se brincar no mundo do outro, de burlar universos tão distantes, tão distintos. A ousadia que ele faz uso em inverso caminho também atrai desejos femininos. Não é loucura se permitir transitar entre mundos contraditoriamente lindos, loucura é preferir não escancarar o verbo da forma como está sentindo só para seguir uma norma, torta, que criamos e seguimos. Quando a sede se matar com água, que seja feita a nossa vontade. Se for a sede de se matar com vinho, que se beba cada taça até matar a sede com a embriaguez dos caminhos. O prazer da arte está na doce liberdade de romper fronteiras, sendo consequente no rasgar temporário da realidade. Sua maior beleza é a de provar, mesmo que na ficção, toda a grandeza da multiplicidade de leituras, desvios e possibilidades através da imaginação. Que toda loucura seja santa enquanto for profana, verdadeira e inteira. Paixão.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Entre os escombros dos seus pesadelos

Lambiam feito gatos os seus desejos, os seus sonhos e os seus medos.
Não eram inimigos, mas não se sentiam companheiros.
Queriam juntos, mas não se sabiam inteiros.
Deixavam suas metades perdidas em lugares que desconheciam o endereço.
Rota de segredos da impossibilidade de estar perto de si mesmo.
Nasceram acreditando no poder do ser verdadeiro, na capacidade humana de desvendar segredos, mas com o decorrer do tempo perceberam que os enigmas mais complexos estão tatuados no lado de dentro do peito onde nunca se tem acesso completo, com inúmeras restrições ao pensamento.
Réus confessos, nunca se acharam de tanto se procurarem em outros corpos sem sabor, alma e cheiro de intenso.
Talvez tenham sido cruelmente devorados pelos seus personagens socialmente aceitos.
Talvez ainda possam se resgatar entre os escombros dos seus pesadelos.